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TROPA DE ELITE 2, UM ALÍVIO

No “Tropa de Elite” de 2007, o diretor José Padilha preferiu focar no embate entre o heróico Capitão Nascimento e seu pupilo Matias contra as forças do mal da banda podre da PM e da bandidagem, lamentavelmente oferecendo evidentes indícios de resolução do conflito pela lógica fascista (clique aqui para ler a minha crítica). Embora desde sempre Padilha tenha negado qualquer intenção de transformar o Capitão Nascimento de “Tropa de Elite 1” em herói, o fato é que a ideologia do personagem foi perigosamente adotada por boa parte dos espectadores do filme como a única solução para “limpar” o Rio de Janeiro do crime organizado.
“Tropa de Elite 2” representa um alívio para todos aqueles que reagiram com preocupação à mensagem transmitida pelo primeiro filme. O Capitão Nascimento, agora Tenente-Coronel, mudou sua postura, passou a admitir rever certos conceitos, o que mostra que Padilha pode ter absorvido as críticas, mesmo sem parecer te-las digerido bem. Em determinado momento do novo filme ele homenageia explicitamente o diretor Costa-Gavras (presidente do júri em Berlim que deu o Urso de Ouro a “Tropa”), colocando personagens diante de um cinema que exibe uma retrospectiva de seus filmes, como se quisesse lembrar a todos da grande láurea recebida das mãos de um diretor de filmes de cunho humanitário, numa resposta ao bombardeio crítico. Em outro, ele não perde a oportunidade de voltar a dar uma sacaneada nos “intelectuais de esquerda” e “nessa turma dos direitos humanos”, especialmente pela forma debochada como Nascimento se refere a eles nas narrações ao longo do filme, sempre provocando gargalhadas e buscando a adesão da platéia. Com isso, ele só reforça a equivocada visão que a população, especialmente a menos esclarecida, ainda tem dos defensores dos direitos humanos.
Vale lembrar que, embora ao longo do filme Nascimento vá refletindo e mudando de idéia em relação ao deputado Fraga, isso nunca chega a ser verbalizado com o mesmo peso das críticas, e que Fraga indiretamente acaba sendo o responsável pela prisão de seu enteado com maconha e pela morte dos jornalistas.
Tirando essas ressalvas, há de se destacar os inúmeros avanços em relação ao primeiro filme. No campo temático/ideológico, a opção por, finalmente, colocar a política no cerne da questão que envolve a violência urbana – algo que já fazia parte de “Elite da Tropa”, o livro que inspirou o primeiro “Tropa”. Se no “Tropa 1” a narrativa era construída de forma a entorpecer o espectador no sentido de não lhe dar brecha para reflexão, mas sim para comprar a tese do Capitão Nascimento, aqui a platéia é convidada a refletir com ele. Basta lembrar que o primeiro filme terminava de forma catártica, com o tiro estourando os miolos do bandido e a agressiva música-tema louvando o BOPE entrando em seguida, fazendo a platéia sair do cinema sedenta de sangue. Dessa vez, após a imagem aérea do Congresso Nacional, entra a música “O Calibre”, dos Paralamas do Sucesso, mais lenta e analítica.
Isso não significa que “Tropa de Elite 2” esteja mais para um thriller político a la Costa-Gavras do que para um filme de ação. Na verdade, dessa vez o roteiro consegue atingir o equilíbrio quase perfeito entre os bastidores da violência e a sua execução. Se é para citar uma referência estrangeira, está mais para os filmes de máfia de Scorsese do que para o cinema de Costa-Gavras. Não é à tôa que a cena de abertura, com Nascimento saindo do hospital e tendo seu carro metralhado, soa quase como uma citação explícita ao prólogo de “Cassino”, em que o carro de Robert De Niro explode.
Tecnicamente, o filme não deixa nada a dever aos melhores momentos do thriller policial americano, nas envolventes cenas de ação e sobretudo no magnífico desempenho do elenco, com destaque para Wagner Moura e o vilão-revelação interpretado por Sandro Rocha, o major Rocha. A grande diferença é que com a ação se passando no Rio de Janeiro de agora, e não na distante realidade da ficção, a capacidade de envolvimento e indignação do espectador é muito maior. E dessa vez é canalizada para o Bem, mostrando que não vai ser torturando e exterminando bandidos que a violência urbana vai chegar ao fim. Só é uma pena que o filme não tenha sido lançado antes das eleições para deputado federal e estadual, para que o eleitor tivesse a chance de refletir sobre a necessidade de uma “limpeza ética” no Congresso Nacional e na Assembléia Legislativa. Que venha o “Tropa de Elite 3”!

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